sexta-feira, 27 de junho de 2008

ROCK POR PURA DIVERSÃO

RIP IT OFF by Times New Viking

Não é uma banda fácil de "deglutir" essa tal Times New Viking: o som do trio de Columbus, municipalidade ao norte da terra yankee, é algo tão sujo, tão sujo, que parece ter sido gravado toscamente num daqueles gravadores de fita k7 antigos num galpão fedorento. Mas, carajos, falando assim parece até que eu vou destruir com o disco dos caras e achincalhar o trabalho da banda. Não, veja bem (já diria um honrado professor meu), não é bem assim.

O Times New Viking tem distorção, tem reverb, tem volumes altíssimos, mas também tem muita melodia. E como. As 16 músicas em Rip It Off, segundo LP do grupo e o primeiro pelo famoso selo Matador Records, são como micro-cápsulas de pop contemporâneo. Ao misturar um despretensioso garage rock de vocais abafados e berrados (coisa reminescente do Guided By Voices, talvez a maior influência), com os "estupros" de guitarra noisy-shoegazy, o espírito juvenil de "let's play rock like freaks and have some fun" é o que vem na cabeça. E é impossível não se contagiar pelo mesmo.

(My Head) é estupidamente divertida. O riff se arrasta entre um reverb e outro acompanhado da base que poderia muito bem ter sido composta por Lou Reed. O ritmo da bateria caminha perfeitamente com a alternância entre as vozes infantis dos vocalistas Mark Ibold e Brix Smith. Logo em seguida vem Rip Allegory, um porradão que parece uma gravação demo dos White Stripes de começo de carreira. E esse clima continua, entre bases muito bem compostas, viagens "a lá" Psychocandy (Jesus & Mary Chain) em noises e reverbs, vocais infantis e divertidos, porradarias pop, e muita alegria. Devo confessar que Rip It Off me deixou curiosíssimo em ver a banda ao vivo. O clima do disco já é em si o de um show, é como se tudo tivesse sido gravado em um take com a banda toda tocando junta. Afinal, o rock que a banda faz é pra ser tocado ao vivo, em pequenos espaços, com o público bem próximo, dançando e cantando as músicas junto, e compartilhando daquele lado divertido que o rock pode oferecer (que muitos hoje parecem esquecer com preciosismos).

O Times New Viking é uma banda acima de tudo sincera, que faz um som descompromissado e direto, querendo apenas passar o espírito ingênuo, alegre e barulhento que o rock parece estar perdendo cada vez mais.

http://www.myspace.com/timesnewviking

sábado, 7 de junho de 2008

PORRA DE RELACIONAMENTOS

THE MIDNIGHT ORGAN FIGHT by Frightened Rabbit

Ultimamente quando pensamos em música pop e a qualidade do que tem sido criado, dificilmente nos deparamos com um disco que toca profundamente as questões do amor e dos sentimentos sem se perder em breguices ou mergulhar em clichês. Numa área tão importante para o que é o pop historicamente, é cada vez mais difícil encontrar coisas originais e que realmente passam um significado novo, genuíno e, mais importante ainda, sincero. Pois o Frightened Rabbit, uma banda escocesa - mais uma das várias bandas pop de Glasgow (terra de Belle & Sebastian, Travis, Franz Ferdinand, por exemplo) - lançou este ano um álbum que é exatamente isso, um apanhado de canções confissionais e tocantes sobre relacionamentos e amores, que, melhor ainda, são musicalmente sensacionais. Trata-se de The Midnight Organ Fight, lançado pelo selo Fat Cat Records e que alça a banda ao patamar dos melhores grupos pop da atualidade.

É difícil escolher uma música pra começar a falar do disco, quando todas as 11 músicas (três das faixas são apenas intervalos musicados) poderiam ser singles facilmente, e todas contêm letras e melodias dignas de bons comentários e citações. Mas vamos lá. Fast Blood é provavelmente a mais intensa e poética das músicas sobre uma transa pré-sono já feitas. As guitarras, disparadas em uníssono como nos melhores momentos antêmicos do Coldplay, funcionam perfeitamente no suporte das letras passionais de Scott Hutchinson. No final, uma slide guitar entra com tamanha força que, ao se pensar na letra, é fácil relacioná-la ao clímax da relação descrita por Hutchinson na canção. Aliás, o uso de slide guitars para construir suítes épicas está presenta em outras faixas, como a abertura The Modern Leper, onde ela, dessa vez acústica, cria o molde melódico por onde caminham os versos.

A música do Frightened Rabbit explora muito a sexualidade ao falar de relacionamentos. Keep Yourself Warm é talvez a mais forte e raivosa das músicas pop do ano, e, ao contrário de Fast Blood, o sexo com amor dá lugar ao sexo casual. É um tratado de Hutchinson sobre as famosas "one-night stands". "It takes more than fucking someone you don't know to keep yourself warm" canta, como alguém cansado e desiludido com tanta banalidade no amor, num dos versos mais emblemáticos do rock este ano. Floating In The Forth lembra os momentos menos "wall of sound" do Twilight Sad, banda também de Glasgow. Um fundo etéreo de sintetizador abre o caminho para a entrada gradual de um violão, teclados, guitarra e até mesmo uma gaita, exacerbando novamente a capacidade da banda em criar hinos ao exemplo do U2 da velha guarda (pré-Acthung Baby). A letra é de partir o coração e Hutchinson cativa o ouvinte a compartilhar o seu estado miserável de fim de relação.

O Frightened Rabbit se aproveita de tudo que seus contemporâneos do indie rock fizeram de bom para criar um dos melhores álbuns de 2008. As boas melodias e o rock bem cabeça que fazem não seria o mesmo sem o desespero e franqueza da voz de Scott Hutchinson (além da bela pitada de sotaque escocês genuíno), mas não há como ignorar algo tão forte e honesto como The Midnight Organ Fight.

http://www.myspace.com/frightenedrabbit

sexta-feira, 6 de junho de 2008

ARCADISMO

FLEET FOXES by Fleet Foxes

A nova banda "modinha" entre os pseudo-hipsters quero ser antenado e parecer cool vem de (adivinha) Seattle! São os (pra lá de hipsters - e barbudinhos) Fleet Foxes. Desde o início deste ano, o quinteto já tem recebido uma atenção crescente da imprensa musicálica com o lançamento do EP Sun Giant, que contém cinco músicas de um pop bastante charmoso e, diria-se até, abrasivo, com harmonias envolventes, guitarras com reverb e estruturas bastante melódicas.

Justamente hoje, dia 5 de junho, a banda lançou seu primeiro álbum pelo selo Sub Pop. O nome, ao contrário do que estava sendo dito pela imprensa e pela própria banda: Ragged Wood, é simplesmente Fleet Foxes. A começar pela capa, é díficil não pensar em campo, verde, sol e tranquilidade quando se pensa no disco. São onze musiquetas muito bem encaixadinhas, de um minucioso pop bucólico, composto não apenas de uma influência específica, mas de um apanhado tão grande de estilos e épocas que mais parece ser uma antologia do folk, country e sunny pop norte-americano.

Ryan Pecknold, vocalista e guitarrista, é talvez o principal diferencial da banda. Sua voz, que tem um timbre semelhante ao de Jim James (do My Morning Jacket), é mergulhada em emoção e legitimidade faixa a faixa, e por muitas vezes ganha tanta importância no contexto da música que carrega a melodia por si só (algo como Brian Wilson em seus momentos mais célebres no Beach Boys). Esta voz profunda e marcante imprime alma a Oliver James, o encerramento do disco, onde seus suaves e impactantes coros ao final da canção dão um sublime final ao passeio ensolarado que é o álbum.

Mas não, não me aterei apenas a essa música final. Assim como sua despedida, a entrada de Fleet Foxes é também apenas vocal, mas dessa vez toda a banda participa, num momento um tanto Pet Sounds na Renascença. Isso abre caminho para Sun It Rises, um epopéico cartão de visitas para quem ouve o álbum pela primeira vez. Harmonias vocais se alternam com ternas melodias, carregadas por um órgão pueril, e que ganham força pouco a pouco, nos dedilhados do guitarrista Skjelset, e na percussão quase índigena de Wescott. Em seguida vem um brilhante hino, White Winter Hymnal, onde os ritmos que se constróem das harmonias vocais aos solos de guitarra criam algo meio country-encontra-folk apache e onde, mais uma vez, a percussão cria uma estrutura marcante pra toda essa elaboração melódica. Ragged Wood tem cara de country-rock Johnny Cash, mas logo se divide e mergulha num AM pop meio setentista, que lembra os bons momentos da The Band e de Neil Young. Heard Them Stiring é instrumental, onde as vozes só funcionam como mais um instrumento em toda a harmonia, mas seus acordes bucólicos e bem encaixados dão uma sensação tão boa e tranquilizante que os gritinhos de "aaahhhh" nunca despertam ansiedade por um "começo" teórico da canção com versos, refrão e toda a estrutura tradicional.

Bom, acho que isso é o suficiente pra despertar a curiosidade de quem lê em baixar e ouvir o disco. Não se importe com a credibilidade ou não deste que vos fala e de quaisquer ceticismo que tenha sobre as opiniões que tenho, o Fleet Foxes definitivamente é uma banda única e maravilhosa. Se você gosta de country-rock, pop psicodélico, pop californiano anos 60, rock de AM, Beach Boys, The Zombies, Johnny Cash, The Band, Fleetwood Mac, The Shins, My Morning Jacket, The Decemberists, Will Oldham, Okkervil River, Wilco... enfim, gosta de música boa, tenho certeza que, assim como eu, vais te apaixonar por esta banda. Sendo pseudo-hipster ou não.

www.mypsace.com/fleetfoxes


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quinta-feira, 5 de junho de 2008

THE COOLEST RECORDS OF THE 90s - NUMBER 7

Em uma hora de vadiagem no trabalho, resolvo vir cuspir palavras numa ferramenta de postagem HTML. Palavras estas que procuram, sabe-se lá como, incutir opiniões e sensações acerca de música, uma coisa tão pessoal quanto uma escova de dentes. Minha lista das 30 melhores músicas de 2007? Whatever, acho que não estava dando muito certo.

A outra, tudo bem, vai continuar agora, por que é um disco muito bom, que me fez gostar de um gênero que até então era um tanto hostil pra mim e que, de certa forma, me despertava preconceito. É a sétima posição no meu Top 10 dos melhores discos da década de 90. Você ainda se lembra da década de 90? Eu nunca gostei muito, e, bolas, dos discos dessa lista aqui acho que só tem um que eu ouvi na época. Criança estúpida e alienada. Fazer o quê? Não nasci num berço abraçado numa guitarra, muito menos tinha uma coleção de discos de vinis em casa pronta para ser desbravada pela minha curiosidade infantil. Minha maior influência era a MTV, que, convenhamos, não é boa influência pra ninguém. Por outro lado, é engraçado lembrar de quanto você achava as Spice Girls o máximo, e que a música mais bem elaborada que você ouvia era o Guns N'Roses.

Triste mundo cruel pré-internet. Ou não. A ignorância é uma benção, até em matéria de música. São tantas coisas boas que fica impossível assimilar tudo. Provavelmente estaria em maus lençóis se fosse músico, não conseguiria limitar focos para minhas canções e faria uma salada bizarra que tanto podia ser vista como genial como puro lixo sonoro. No entanto, acho que a banda de hoje faz um som que muito me agrada no sentido de fazer rock. Se fizesse rock, gostaria de fazer como eles. Essa banda é a maior de todas as bandas "faça-você-mesmo" que já existiu. O indie no sentindo mais indie da coisa. Os deuses maiores da nação que levanta a bandeira do underground. São os estadunidenses do Fugazi.

7. Red Medicine by Fugazi

O Fugazi é uma banda única. Formada em 1988, ela nasceu das cinzas de duas bandas seminais e tremendamente influentes na cena do hardcore na costa leste dos EUA, mais precisamente Washington D.C.: o Minor Threat e o Rites of Spring. Eles eram punks, faziam música pesada, rápida, com a distorção lá em cima e com vocais gritados, furiosos. Mas, ao contrário de qualquer estereótipo, eles não eram punks sujos, vagabundos, anarquistas e junkies. A banda praticamente "lançou" um movimento dentro do punk chamado Straight Edge (esse, aliás, é o nome de uma música do Minor Threat) que se tratava de um grupo ativista, que defendia causas sociais, se interessava em fazer música pela música e não usava qualquer tipo de droga, inclusive o álcool. Alguns, mais radicais, até mesmo defendiam a bandeira do vegetarianismo. Sua fama se construiu pelo boca-a-boca e por mídias independentes. Eles preferiam dar entrevistas gigantes pra qualquer fanzine furreca a falar uma palavra ou duas com a Rolling Stone. Sempre lançaram seus cds pelo próprio selo (hoje lendário) Dischord, limitavam seu preço a 5 dólares e nunca cobravam mais de 10 conto pelos seus shows.

Musicalmente, a banda criou um gênero chamado de post-hardcore, denominação que surgiu devido a forte semelhança com o hardcore tradicional, mas que guaradava forte influência do emocore (antes do termo virar o adjetivo pejorativo que é hoje), do garage rock e do noise rock. A importância rítmica nas canções era muito maior que a melodia, e as guitarras sempre muito distorcidas ganhavam o aspecto de um baixo dando ainda mais sustentação ao ritmo. Não é à toa que muitos grupos de math-rock se dizem influenciados pelo Fugazi, já que os ritmos descontinuados de bateria do gênero estavam presentes em muitas das músicas da banda.

Agora vamos ao disco. Lançado em 1995, marca o pico dos caras em sua veia mais experimental. O clima do disco é até meio claustrofóbico, e a sequência das músicas entre hinos de hardcore e psicodelias esticadas pelas guitarras fazem oscilar as freqüências sonoras que o disco passa entre o ódio e a calma. O quarteto arriscou em coletar elementos de outros gêneros como drone, downtempo e dub pra fazer um disco completamente diferente da trilha que tinham estabelecido como reis da música independente com os punks straight-forward de Repeater e Steady Diet Of Nothing. Quando escutamos o disco de cabo a rabo, do hino apoteótico e veloz de Do You Like Me aos drones e estranhezas de Long Distant Runner, percebe-se uma evolução em maturidade que marca o disco. Mas, para caras tão importantes para os jovens idealistas da época como eles eram, essa maturidade não foi uma coisa ruim. Afinal, o sentimento que fica é que o Fugazi amadureceu sem envelhecer um dia sequer.