segunda-feira, 21 de julho de 2008

INDIOTIZAÇAO CULTURAL

Os 20 passos fundamentais para você, meu querido amigo, se transformar num indie de primeira linha.

1. Antes de mais nada, use oclinhos quadrado de acetato, mesmo se nao precisar. Óculos alternativos também são válidos, mas apenas se forem largos e originais.
2. Seja um ávido frequentador de blogs e sites que falem sobre música. Leia todo mês as principais revistas para poder achincalhá-las (principalmente a Rolling Stone)
3. Tenha no mínimo mais de 40 gigabytes de música no seu computador
4. Não desgrude do iPod e se possível, ouça música durante o banho, aula e trabalho.
5. Faça air-guitar, air-bateria, air-baixo, air-violino, air-accordeon, whatever, durante as músicas que você mais curte, mas sempre de maneira muito discreta.
6. Compre discos de vinil sem nem mesmo ter onde ouví-los
7. Não pegue ninguém, se faça um pouco de coitado mas no fundo orgulhe-se disso (choramingar muito já vira emo)
8. Use bottons, chaveiros e camisetas engraçadas.
10. A moda pede all-star, calças justas, xadrez, listras. Muito colorido (em especial coisas neon-eighties) se você for new-cool ou básico e monocromático se você for mod/french underground.
9. Nas festas, se faça um pouco de difícil e anti-social mas perca a timidez quando tocarem aquela super música dos beatles ou dos kinks que você tanto gosta. Se tocarem então uma do franz ferdinand ou do libertines solte a franga.
10. Converse com os outros sobre aquele filme do Ingmar Bergman muito controverso e astuto da década de 50. Comente sobre a ousadia de Tarantino em seus filmes. Fale sempre que prefere o cinema europeu. Pergunte se alguém concorda com você que o Steven Spielberg é puro hype. Coloque Stanley Kubrick na categoria de Deus do cinema. Diga também que Michel Gondry e David Fincher disputam o posto de novo Kubrick. Ator favorito tem que ser algum underground ou então um hollywoodiano que escolhe papéis de ponta tipo Johnny Depp ou Kate Winslet.
11. Nunca elogie best-sellers atuais. Fale bem dos livros de Nietszche, Jean-Paul Sartre e da filosofia por eles proposta. Comente Estética, Semiótica e a Escola de Frankfurt. Elogie James Joyce, Victor Hugo, William Faulkner. Critique o romantismo de Shakespeare. Convença os outros que Kafka foi o melhor autor de todos os tempos.
12. Grave cds com aquele monte de músicas super legais de bandas que nunca ninguem ouviu falar e dê eles para seus amigos.
13. Tenha também um blog para falar dos seus "achados musicais",
14. Toque ou sonhe em tocar algum dia um instrumento musical, mas nunca toque ou sonhe em tocar guitarra e em ser vocacalista. Sempre queira ser baixista ou baterista, que são mais discretos e pouco focados. Ou melhor, tente aprender a tocar violino, piano clássico ou ainda banjo.
15. Quando for tirar fotos tente sempre tirar fotos desfocadas ou abstratas. Depois de preferência dê aquele efeito nela no photoshop. Quando for então postá-la no seu fotolog que deve ter um título estranho tirado de sua mente bizarra ou de alguma música escreva também algo bem babaca, ou ainda não escreva nada.
16. Nas artes, prefira os modernismos mais revolucionários, feito o Dadaísmo e o Surrealismo. A pop art é indispensável. Roy Liechtenstein e Andy Warhol precisam fazer parte de seu repertório.
17. Tente parecer politizado ou ligado na situação economica atual mas nunca o seja realmente, e tente evitar tais tipos de conversa. Indies não gostam de política e tão pouco se lixando para isso. Deixe isso com os comunistinhas que comem criancinhas e ouvem bob marley, rage against the machine, e outras bandas "anti-sistema".
18. Não use drogas. Tome seu drink mas nunca abuse. Dê preferência à uma cervejinha pra poder te fazer companhia nos cantos quando meio deslocado em festas.
19. Tenha algum problema psicológico ou psiquiátrico, de preferência frequente algum doutor que trate desses problemas. Um anti-depressivo na cabeceira da cama também é bem indie.
20. Lembra aquele blog que eu disse que você obrigatoriamente tem de ter pra comentar dos achados musicais? Pois então, poste lá também as coisas idiotas que você escreve. Como por exemplo tudo que eu escrevi até agora. Isso é BEEEEEEM indie.

DAILY SONGS - 21/08

Depois de um final de semana pelo interior catarinense, mais precisamente pelo "vale da tecnologia", volto a ilha e às atualizações regulares deste novo feature tosco neste blog jagunço.


José Gonzalez - How Low

Filho de argentinos nascido na Suécia, o cantor-compositor José Gonzalez é uma espécie de cria de Nick Drake e João Gilberto, abusa de dedilhados e suas músicas dificilmente saem da fórmula voz e violão. Nesta canção, o compositor usa uma percussão minimalista, suave, quase imperceptível e suas batidas suingadas com um quê latino (marca de suas origens hispânicas) carregam a música aliadas aos vocais em baixo tom.

[mp3] José Gonzalez - How Low

Para ouvir com: uma xicará de café ao amanhecer.

sexta-feira, 18 de julho de 2008

DAILY SONGS - 18/08

Ontem tive um pequeno probleminha de tempo com trabalhos e visitas então acabei não postando música nenhuma. Sendo assim, hoje teremos um "double feature" trazendo musiquinhas divertidas para alegrar o seu dia em dose dupla.

Air France - No Excuses

Já enchi a bola dessa banda sueca na minha lista dos 10 melhores discos do primeiro semestre, e agora deixo com vocês a melhor música do EP No Way Down. É a mais estruturalmente "tradicional", e apesar da presença marcante de samples, ao menos no intrumental ela é mais crua e direta com as notas saindo dos teclados e guitarras como rajadas de brisa vindas do mar e a percussão cumprindo o papel do sol dando o tom caloroso da canção.

[mp3] No Excuses by Air France

Para ouvir com: água de coco na praia num fim de tarde.

Enon - Conjugate The Verbs

O trio norte-americano Enon é bem conhecido por seu estilo de dirty-bad-ass pop, e em Conjugate The Verbs a letra "claustrofóbica" da música ganha o toque paradoxal de uma transição alta, distorcida e emperequitada de eletronicismos e efeitos de guitarra. Algo que funciona como libertação do sufoco que a letra sugere na voz do vocalista Steve Calhoon.

[mp3] Conjugate The Verbs by Enon

Para ouvir com: o carro em alta-velocidade e as janelas escancaradas.

quarta-feira, 16 de julho de 2008

DAILY SONGS - 16/08

Dez e Seis de Júlio de Doismille Oito.

Low - Sunflower


Essa é uma para ouvir, absorver, tocar, sentir, saborear e amar. Para muitos, o trio Low é o melhor exemplo de trilha sonora auto-destrutiva, mas Sunflower é o caso de uma banda que, no auge de sua melancolia, consegue ser doce e até mesmo otimista.

[mp3] Low - Sunflower

Para ouvir com: o abraço apertado de alguém.

terça-feira, 15 de julho de 2008

DAILY SONGS

Novo feature do blog mulambento que promete (!) realmente ser diário. Posts curtos e grossos, uma música, uma descrição e um acompanhamento.

Quinze de Júlio de Dois Mil e Oito

High Places - Freaked Flight


Psicodelia e esquisitices cozidas com melodia cheirando a folhagem, lama e orvalho e temperadas com a voz angelical de Mary Pearson.

[mp3] High Places - Freaked Flight

Para ouvir com
: incenso de carvalho.

quinta-feira, 10 de julho de 2008

RETROSPECTIVA PRIMEIRO SEMESTRE: OVERLOOKED RECORDS

Considerando ser 10 um número muito pequeno para que possa compilar todos os bons "elepês" dos últimos seis meses, resolvi acender um spotlight sobre outros disquinhos muito legais que brotaram das profundezas do mar indie/mainstream sem fim. Dessa vez prometo ser breve. Beijo a todos vocês, amei super até o comentário do anônimo no último post que nos deu sua própria listinha (aliás, façam isso, é bom ver outras opiniões).

Beat Pyramid by These New Puritans

Uma construção melódica meio robótica dá ao disco um clima meio Blade Runner, o que ainda é ajudado pelos sintetizadores pós-apocalípticos presentes. Imagine The Fall, Depeche Mode e Bloc Party numa coisa só e temos o These New Puritans.

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03-07/09-07 by High Places

Este lançamento é uma espécie de mini-LP que compila os singles lançados pela dupla no período citado no título e que nos deixa boquiabertos e ansiosos para o álbum de estréia que está prometido para setembro. O som tem cara de folktrônica, com o uso de samples infinitesimais cheios de sons psicodélicos e ensolarados. Pra quem curte Animal Collective é um prato cheio.

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Lie Down in The Light by Bonnie "Prince" Billy

É quase impossível não gostar de qualquer coisa que saia das mãos de Will Oldham, o verdadeiro nome por trás da alcunha de Bonnie "Prince" Billy. Mais uma vez o compositor lança uma coleção de canções coesas e muitíssimo bem elaboradas, num disco que consegue chegar aos pés do clássico I See A Darkness do compositor, mas desta vez com uma cara muito mais otimista. Se o disco de 99 é uma trilha de inverno, este último é a resposta "veranista" à ele.

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Rook by Shearwater

Jonathan Meiburg se livrou de uma vez de qualquer sombra do Okkervil River (sua outra banda) com este excelente disco que de certa forma dá fundamento à uma identidade própria do Shearwater. Muito menos folk ou indie pop que o Okkervil, em Rook há um amplo uso de orquestrações, um clima bem mais dark, e momentos muito mais amalgamáticos e abrasivos que são reminescentes de uma certa fixação Ok Computeriana do compositor.

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Viva La Vida by Coldplay

Chris Martin, por mais ególotra que seja, é um cara de talento. E o mesmo pode se dizer de sua banda, que apesar de alguns deslizes como no um tanto pífio e repetitivo X&Y, é sem dúvida uma das mais consistentes e eficientes da atualidade. Em Viva La Vida, Brian Eno assumiu a produção e deu um toque mais épico e transcendente ao som dos caras, e, apesar de não ser um Joshua Tree ou Ok Computer, este disco é sem dúvida o melhor da banda inglesa.

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Rip It Off by Times New Viking

Conforme a resenha que postei aqui algumas semanas atrás, este disco é o maior exemplo que se pode fazer música boa com recursos de gravação furrecas e muito feeling e diversão. O trio de Ohio faz um noise pop - shitgaze, conforme a banda se rotula - certeiro, com riffs diretos e empolgantes.

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At Mount Zoomer by Wolf Parade

Um dos coletivos mais criativos da atualidade reuniu de uma forma bastante democrática e eficiente as duas vertentes composicionais do grupo, uma guiada pelo shout pop de Spencer Krug, que aplica o tom mais descompromissado-embora-épico reminiscente do seu projeto Sunset Rubdown, e outra guiada por Dan Boeckner que faz um indie rock mais contemporâneo que coloca a banda no patamar de outros destaques da cena como Broken Social Scene, Spoon e Arcade Fire.

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Med Sud I Eyrum Vid Spilum Endalaust by Sigur Rós

Cada vez menos gelado, é mais ou menos assim que o som da banda islandesa mais famosa da história tem ficado disco a disco. Seguindo os já mais aconchegantes sons de Takk..., neste novo disco o quarteto se atém mais à simplicidade e o álbum soa muito mais cru e direto que os anteriores. Sobrou até para um flerte com sons primitivistas e com o freak folk no primeiro single, Gobledigook.

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The Seldom Seen Kid by Elbow

O quinteto de Manchester é, ao lado do Doves, a melhor e mais consistente banda a sair da safra "new acoustical" que brotou na Inglaterra na mesma época que surgiram grupos comercialmente mais famosos como Coldplay, Travis e Keane. The Seldom Seen Kid é bastante sincero liricamente e musicalmente muito bem produzido, com as faixas demonstrando um aspecto de apuro e contínua pós-produção.

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Crystal Castles by Crystal Castles

Um dos discos de estréia mais aguardados deste ano conseguiu sim, atender as expectativas que o hype criou em cima da dupla. Canções pop diretas e criativas, que sabem usar dos eletrôniquicismos 8-bit em favor do punk, do house, do rock, enfim. Nunca música de video-game soou tão boa.

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Saturnalia by The Gutter Twins

Greg Dulli (ex-Afghan Whigs) e Mark Lanegan (ex-Screaming Trees) são duas lendas do rock alternativo e seria difícil imaginar que uma colaboração entre eles não renderia bons frutos. Pois bem, Saturnalia veio para provar que a dupla realmente não teria como dar errado. Os dois se alternam nos vocais de forma sublime, abusando dos graves e de melodias densas, na criação de uma atmosfera unicamente sombria ao longo das doze faixas do álbum.

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segunda-feira, 7 de julho de 2008

RETROSPECTIVA 2008: PRIMEIRA METADE DO ANO

A Espanha saiu da fila e levou a Eurocopa, o Parmera levantou a taça do paulistão depois de 8 anos sem títulos, os democratas indicaram o primeiro candidato negro à presidência na história dos Estados Unidos, e o caso Nardoni foi a pauta da imprensa brasileira nos últimos seis meses. Estes foram os principais fatos de 2008. Mas ok, depois dessa introdução à lá Sérgio Chapeleta, vamos ao que interessa, afinal, esta espelunca aqui é um blog sobre música. Selecionei os dez discos mais interessantes destes últimos seis meses, os primeiros do presente ano, e que julgo serem obrigatórios na discoteca de qualquer um. Vamos a eles:

10) Saturdays = Youth, M83

O DJ e produtor francês Anthony González mudou mais uma vez sua direção musical (do post-rock tecladento, abrasivo e com aspecto wall of sound de Dead Cities, Red Seas & Lost Ghosts e do shoegaze de Before Dawn Heals Us), agora mergulhando nos anos 80, nos deleitando com a trilha sonora perfeita para os filmes românticos adolescentes sessão da tarde da época. Um disco nostálgico e essencialmente pop de alguém que nunca cansa de experimentar.

9) Waited Up Til' It Was Light, Johnny Foreigner

Trio mega-barulhento de Birmingham conseguiu cumprir à altura as expectativas que foram criadas depois do seu mega-hypeado EP de estréia. Com este primeiro disco, conseguem duma maneira similar ao Los Campesinos! criar canções pop a partir de riffs rápidos e grudentos de guitarra e (muitos) gritos infantis. Um álbum bastante catártico e talvez o mais divertido do ano.

8) Twenty-One, Mystery Jets

O quarteto inglês colocou o prog rock na gaveta, reinventaram o visual e arranjou um namorico com a New Wave neste último cd. São doze músicas pop bastante diretas, bacanas, e com um 80s feel antenado com o indie rock mais moderninho pós-Strokes. O diferencial aqui é que, apesar da banda se utilizar duma fórmula já um tanto passada no gênero (confesso que já estou ficando um pouco cansado de new wave revivalists e de indies-moderninho-blasés-strokes-wannabes), eles o fazem com uma boa dosagem de elementos recriando uma atmosfera muito legal que soa fresca e original.

7) Dig, Lazarus, Dig!!, Nick Cave & The Bad Seeds

O cinquentão Nick Cave dispensa apresentações, e em seu 14º álbum um dos maiores gênios do rock dá conta do recado mais uma vez com um disco cheio de riffs certeiros, de experimentalismos (como as explorações de Viola e Violino do multi-instrumentista Warren Ellis) e das já conhecidas letras literárias de Nick Cave. O álbum também representa uma boa incorporação dos elementos de rock garageiro sujo do projeto paralelo Grinderman ao trabalho com os Bad Seeds.

6) No Way Down EP, Air France

Apesar de ser apenas um EP de seis músicas e pouco mais de 21 minutos, No Way Down é o mais luxuoso e sublime dos discos de 2008. A banda sueca mescla ritmos de balearic pop (um tipo de pop eletrônico nascido em Ibiza nos anos 80) com atmosferas sonhadoras, clima ensolarado, hooks mais pop e samples que remetem ao sempre muito influente Since I Left You do The Avalanches. Estranho pensar que um disco que condense todo o clima bom do verão em menos de meia hora de música venha de um país onde a temperatura média não passa dos 10 graus.

5) The Midnight Organ Fight, Frightened Rabbit

Esse excelente disco já recebeu até uma resenha mais elaborada aqui no blog anterioramente e não é por acaso, afinal temos aqui um dos mais sinceros e diretos discos de pop dos últimos anos. Scott Hutchinson canta com seu carregado sotaque escocês sem medo de fazer um bobo de si mesmo ou de expor seus sentimentos mais íntimos e suas questões mais estranhas e pouco lúcidas. Tudo guiado por soundscapes densos, riffs elaborados e uma atmosfera quase épica.

4) Antidotes, Foals

A banda britânica Foals é um dos maiores exemplos do tipo "love it or hate it" dos últimos tempos. Uma boa parte da imprensa britânica criaram um puta hype em cima do quinteto antes (e depois) do lançamento de Antidotes, enquanto outra parte malhou o pau legal no som dos caras. A questão é simples de entender, já que o rock que eles fazem não é dos mais deglutíveis. Partindo de influências cravadas no gênero do math rock (onde a repetição de notas e batidas descontínuas são características essenciais) o grupo criou um ótimo disco pop, na minha opinião, mas que pra muitos soou descaracterizado, cansativo e um tanto plagiado do Bloc Party, por exemplo. Talvez a esses críticos faltou a sensibilidade em perceber o quão bem elaboradas são as 11 músicas deste álbum, que utiliza de princípios musicais inovadores influenciados por fontes tão distantes quanto Philip Glass (não querendo equiparar a genialidade deste para com o bom trabalho composicional da banda).

3) In Ghost Colours, Cut Copy

No disco mais feel good de 2008 o trio australiano Cut Copy soube fazer valer de suas origens na pista de dança pra criar um híbrido perfeito de house e rock. In Ghost Colours tem desde a perfeita musica pra relaxar na sombra em um dia ensolarado até aquele porradão capaz de por uma casa noturna a baixo com suas batidas pulsantes e nostálgicas. Sobra até para a banda arriscar em jams mais rock'n roll do tipo que é pra ser tocado em grandes shows.

2) Nouns, No Age

De uma forma bastante crua e original, a dupla californiana No Age abusa de suas influências no rock de garagem, em noise e shoegaze para criar Nouns, um disco rápido, rasteiro, e muito barulhento, do tipo que é capaz de estourar os miolos sem perdão. O álbum inteiro preserva uma unidade, com os amalgamáticos riffs em reverb loopando ao fundo de cada música servindo como um fio condutor para as doze canções se encaixarem, e, como numa espécie de Phychocandy meets Daydream Nation, os pegajosos e criativos lead riffs de Randy Randall casam perfeitamente com as batidas simplistas de Dean Spunt para criar uma das mais preciosas jóias do noise pop da história.

1) Third, Portishead

Foram 11 anos de obscuridade e reclusão para o trio de Bristol, e, quando parecia que a banda nunca mais renasceria das trevas, eis que o Portishead volta trazendo a escuridão junto. Como uma espécie de Kid A Vol. II, o clima sombrio e intimista impera ao longo de Third, com uma Beth Gibbons insegura e melancólica fazendo uma perfeita versão feminina de Thom Yorke. Os ritmos, mais minimalistas que os trabalhos anteriores da banda, são, no entanto, meticulosamente preparados, e cada batida parece ter sido repetidamente testada e trocada, de forma a garantir ao álbum uma coesão única. A espera parece ter rendido bons frutos tanto a banda quanto aos fãs que, apesar de não mais contarem com trip-hop "mesa de café" típico dos dois primeiros discos, tem em Third o mais completo e denso dos trabalhos do trio, além de um dos melhores e mais enigmáticos álbuns do novo milênio.