quarta-feira, 15 de outubro de 2008

NADA DE PÓS-MODERNISMOS, POR FAVOR


Matthew Ward é um cara de trejeitos e preferências tradicionalistas. Suas músicas seguem sempre por trilhos cravados nas raízes do folk norte-americano, no country e no bluegrass. Na música e na literatura, seu gosto é quase todo restrito a coisas mais antigas, como as canções e os dedilhados de John Fahey, Django Reinhardt e Bob Dylan, e a poesia de Ezra Pound. “A literatura moderna é demais pra mim”, diz ele. “É muito presa à imagem do singular ou é muito pós-pós-moderna. Não consigo me envolver com isso”. O nome artístico, M. Ward, é, da mesma forma, um reflexo de seu gosto mais “antiquado”. “É um apelido de infância que resolvi adotar”, afirma.

Ao escrever a matéria, a música One Life Away de Ward começa a tocar, e é impossível não pensar nela como uma homenagem do compositor às rádios AM especializadas em tocar canções tradicionais. “Cresci ouvindo Johnny Cash e Hank Williams no rádio que meu pai ouvia todas as tardes” lembra ele. Mas foi só com 15 anos que o encanto com a música aflorou para uma coisa mais pessoal e íntima.

Acompanhando músicas dos Beatles, Ward aprendeu seus primeiros acordes. E, como ninguém, os Beatles eram especialistas em canções de amor, coisa que o compositor californiano sabe também fazer com maestria. Seu último disco, lançado em 2006 com o nome de Post-War, foi descrito pela revista Vanity Fair como um dos remédios para a “loucura da Guerra no Iraque”. Ward, por sua vez, se defende dizendo que são “basicamente canções de amor que seguem a linha das canções feitas nas décadas de 40 e 50, no período após a Segunda Guerra”.

Duet For Guitars #2 é seu primeiro disco, lançado em 1999. Dois anos depois, veio o aclamado End of Amnesia, disco que deu maior aparição para o músico na cena norte-americana e rendeu um contrato com a famosa gravadora indie Merge Records (a mesma de Arcade Fire e Spoon, por exemplo). O primeiro fruto foi dessa nova fase foi Transfiguration of Vincent, uma espécie de álbum conceitual, inspirado pela morte de um amigo próximo de Ward chamado Vincent O’Brien. O nome do disco também é uma homenagem, só que a um dos grandes ídolos do músico, John Fahey, que lançou em 1965 o disco Transfiguration of Blind Joe Death. O disco também marca um maior apuro na produção por parte de Ward, que agora conta com uma banda lhe fornecendo apoio. A principal faixa do disco, uma rendição a Let’s Dance de David Bowie, é como uma versão cheia de whiskey, cigarros e melancolia da dançante original do camaleão do rock, o que deu uma cara totalmente inusitada à melodia.

Depois vieram ainda Transistor Radio de 2005 e Post-War de 2006, outros dois ótimos discos de músicas que abordam seja com bom humor ou com tristeza a natureza precária e passageira da vida.

Atualmente, sua atenção está voltada a um novo projeto, mas que não deixa de lado as raízes dos ritmos tradicionais da canção americana. Com a gatíssima atriz Zooey Deschanel, Ward forma o She & Him, um projeto que se afasta um pouco mais do folk mais bluegrass porradão e traz composições de Zooey e algumas covers com uma roupagem suave e emocional, coisa que casa perfeitamente com a voz da mocinha.

Com os dois pés no folk tradicional e os dedos a criar os calos e hematomas que Woody Guthrie, Bob Dylan e David Crosby tiveram antes dele, Ward se mantém fiel ao que faz de melhor: canções simples, íntimas, que vão além do abstrato para criar uma universalidade aberta a interpretações de qualquer um que aprecie seu som. Quando senta em seu pequeno estúdio domiciliar, Ward liga seu antigo e predileto gravador de quatro canais e começa a trabalhar no que considera “seu compromisso com a música: experimentar sons, idéias musicais, letras que traduzam seus sentimentos de alguma forma que seja possível depois para qualquer um se identificar”.

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