quarta-feira, 15 de outubro de 2008

NEO-FREAK-HIPPIE-TROPICAL-NATURALISTA-SEXO-PIADISTA: O MUNDO PSICODÉLICO DE DEVENDRA BANHART

Aos 27 anos, Devendra Banhart pode ser considerado um dos mais universais e contraditórios músicos que já tiveram sua plantação de erva particular. Com barba e cabelos longos, e um visual que remete ora aos xamãs da cultura hindu, ora a drag queens, Banhart, nascido em Houston, no Texas, já viveu na Venezuela e em Nova Iorque, e agora aprecia “dias de harmonia” com plantas, lagartos, sapos, e qualquer coisa que resolva dar as caras em Topanga Canyon, uma cidade ao norte da Califórnia. Numa casa de madeira e vidro, o compositor convive com seus parceiros de banda (e qualquer um que apareça por lá), numa espécie de comunidade digna de qualquer Naturalista.

Seu último disco, Smokey Rolls Down Thunder Canyon, foi inteiramente gravado dentro da casa, tudo fruto de muita dedicação – e inspiração – que resultava em jams ou improvisações depois usadas no produto final. “Eu não poderia ter feito esse disco em qualquer outro lugar”, diz Devendra, que finalmente parece ter encontrado um lugar perfeito para sossegar e ficar perto de sua namorada, a atriz Natalie Portman, que reside em Los Angeles. Afinal, não é qualquer lugar que detém a honra de um dia já ter servido de inspiração pra gente do escalão de Jim Morrisson, Neil Young e Woody Guthrie, os quais viveram ali. Young, inclusive, gravou seu clássico disco After The Gold Rush num chalé que pode ser visto da janela da casa de Banhart.

Estranho pensar que um dia, alguém como Devendra, que hoje vive dessa maneira, já foi um hipster fã de Velvet Underground, caminhando pelos subúrbios de Nova Iorque com jeans, jaqueta de couro e tênis converse rasgado. Com apenas 18 anos e alguns trocados no bolso, Banhart foi tentar a sorte pela Big Apple após assinar um contrato com a Young God Records, selo de Michael Gira (ex-líder da banda Swans), que até mesmo ofereceu um lugar para morar ao músico. A justificativa pra essa mudança não se resume apenas a sua paixão pelas letras de Lou Reed: “eu tinha essas opções: continuar na Starbucks em Houston, virar um sem-teto, ou ir para NY e ser um sem-teto, mas ao mesmo tempo ser um músico da Young God. A matemática é simples, não?” explica.­

O primeiro resultado dessa nova experiência foi o íntimo Oh Me, Oh My, lançado em 2002. Suas letras surrealistas e estilo de cantar arrastado e psicodélico, além da batida folk de seu violão sempre marcada por ritmos latinos, logo serviu para coloca-lo dentro de um movimento em ascensão chamado Freak Folk, ou também New Weird America. Nos discos seguintes, Rejoicing In The Hands e Niño Rojo, ambos de 2004, e Cripple Crow, de 2005, as composições gradualmente foram ganhando mais elementos, recebendo uma produção mais apurada e instrumentação variada, o que rendeu ao músico cada vez mais destaque entre público e crítica.

Da mesma forma que a popularidade de Devendra ia crescendo, da mesma forma ia crescendo sua psicodelia, irreverência e universalidade. A aparência e a performance acabaram se tornando elementos importantíssimos na persona de Banhart, que adotou de vez o visual hinduísta (desde pequeno, seus pais os apresentaram à religiosidade oriental) e passou a explorar de vez uma latinidade surreal que o colocavam de encontro com o movimento tropicalista brasileiro. O compositor é, aliás, um grande fã de Gilberto Gil, Mutantes e Caetano Velloso. Durante seu show no Rio de Janeiro, em 2006, Devendra quase entrou em pânico ao saber que Caetano assistia a apresentação. Ao final, quando o brasileiro elogiou sem reservas sua performance, Banhart admite ter se sentido “melhor que nunca na vida”.

Seu lado irreverente está mais evidente que nunca agora, nas vésperas do lançamento do disco Surfing de seu projeto paralelo, o Megapuss. Junto a Greg Rogove (da banda Priestbird), Devendra chamou outros amigos como Fabrizio Moretti (Strokes/Little Joy), Rodrigo Amarante (Los Hermanos/Little Joy), o comediante Aziz Ansari e seu produtor Noah Gorgeson, para explorar seu lado “pop”. A arte do disco de estréia traz a dupla cabeça da banda pelados nas fotos. Se isso já não bastasse, os nomes de algumas das músicas são coisas do tipo “Duck People, Duck Man”, “Crop Circle Jerk 94” e “Chicken Tits”.

E o Megapuss já encontra-se em turnê pela terra de titio Obama fazendo suas peripécias músico-sexuais enquanto o disco, que sai dia 4 de novembro, não dá as caras. E com certeza não vão faltar pintos, já que além do show dos caras ter fotos dos mesmos pelados projetadas ao fundo do palco, Devendra usa uma saia feita com pintos de borracha. Pra quem é digno de tantos rótulos, só faltava isso, uma coisa meio neo-pornô.

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